domingo

anónimo diz:


Houve aí uma discussão provocada pelo blog de Pacheco Pereira, o Abrupto, sobre o anonimato na qual eu já tinha uma posição.
Para mostrar que isto também é um blog e de vez em quanto é sensível à vibrante agenda bloguítica, deixo aqui uma síntese dos meus argumentos:

  1. Distingo “debate público de opiniões” de todas as outras formas –mais ou menos artísticas – de expressão. No segundo caso o nome pode ser parte do conteúdo a exprimir, para o primeiro o nome é um dado objectivo.

  2. Como ‘dado objectivo’, quero dizer que se pretende grande transparência entre as ideias e o idiota. Isto significa que as opiniões de cada um serão sempre emitidas sob o mesmo nome e que este nome é o mesmo em qualquer meio (incluindo o meio de expressão actualmente mais democrático, a Internet).

  3. Na Internet, alguém pode simplesmente simular um nome e o resultado é o anonimato. O ideal é ter uma página pessoal, como um blog, e juntar sempre esse link ao nome do comentário.

  4. A razão para a distinção feita no ponto 1 está em eu acreditar no papel do debate público numa democracia. Este debate público, o ‘fórum’, nasceu com ela e é um sinal da sua vitalidade. Os cidadãos precisam desse esclarecimento para melhor viver em sociedade e finalmente para votar esclarecidamente.

  5. A razão para o ponto 2 está em que, como legítimos participantes numa democracia, somos responsáveis pelo que dizemos – para o bem, mas também para o mal (no caso de violarmos a lei).
    Depois, há uma agressividade implícita mesmo no utilizador de nick name mais bondoso. Porque ele sabe e toda a gente percebe que ele se apresenta escondido -não é assim que ele se apresenta na realidade real.
    Porque é que ele faz isso? depende.
    O que é certo é que ele gosta de preservar esse desequilíbrio pois não se apresenta na realidade real como o do nick tal.
    Finalmente, trata-se de combater um problema da nossa sociedade que conduz à alienação e ao isolamento. A Internet veio proporcionar o anonimato total e nós usamo-lo indiscriminadamente. Há que saber usa-lo nos momentos apropriados.

  6. A tese de que o que conta são as ideias debatidas, sendo a autoria negligenciável, levada a cabo faria com que toda a gente fosse anónima perante toda a gente durante todo o tempo. Não me parece razoável. O facto de reconhecermos ao logo do tempo autores cuja opinião nos é relevante poupa-nos imenso tempo.

  7. Se se defende a autoria em vez do anonimato aplica-se o ponto 2.

  8. A questão sobre a adequação do nome de nascença: «um nome escolhido pelo próprio adulto será muito mais representativo» é uma questão interessante, com a qual concordo mas que passa ao lado do meu argumento. Eu não defendo que se use o nome atribuído pelos pais mas somente o que consta no ponto 2.
    Por exemplo os artistas costumam mudar o nome de nascença, mas o que importa é que esse nome seja claramente relacionado ao sujeito em questão (Woody Allen, Le Corbusier…).

  9. Finalmente, não entendo que isto seja uma Lei, nem dou demasiada importância a este assunto. Cada um é livre de discutir como quiser –como sempre foi. Que use a demagogia, a falácia, o insulto, que se identifique como quiser –as atitudes ficam sempre com os próprios.