sexta-feira

o que é isso de 'arquitectura'


A cultura do “desenrasca” está muito enraizada no espírito Português – o que é óptimo no caso de naufragarmos numa ilha deserta mas não para quem pretende construir uma sociedade civilizada.
Tome como exemplo a sua área profissional – se você é um profissional com brio com certeza que identifica uma série de casos em que o uso adequado da sua profissão traria vantagens evidentes para os interessados particulares. Generalizando esse comportamento traria eficiência para toda a sociedade.
Agora imagine que toda a gente se acha entendida na sua área.

O leitor no fundo da sua sabedoria já por uma vez imaginou como faria a sua casa. Não é uma tarefa que o assuste mesmo não tendo experiência na área nem estudado arquitectura.
No entanto você engana-se a si próprio. Está a fechar os olhos para algo que pode alterar o seu dia a dia, a sua qualidade de vida.
Há duas razões simples para isto:

1. O leitor conhece o básico de uma casa – com certeza que vive numa e já entrou em muitas outras. Mas para a sua concepção é necessário sintetizar a informação de forma a hierarquiza-la e fazer escolhas. O arquitecto está treinado a ler as possibilidades existentes e eliminar as soluções precárias montando uma estratégia com poucas fragilidades. Para além disso o arquitecto existe no seio do processo construtivo e vai acumulando uma biblioteca de recursos que para o cidadão comum estão distantes.

2. A outra razão é que Arquitectura é cultura: da mesma forma que um país (há-os) gosta de se apresentar com bom cinema, boa gastronomia, boa musica, boas artes plásticas, boa moda, bom design…também deve ter gosto na sua arquitectura. Todos estes aspectos são o cartão de visita de um país, a forma como se apresenta. Assim como a maneira de vestir de um indivíduo faz parte da sua identidade.
Sendo assim, não será do interesse público “vestir” bem Portugal? Acresce o facto de a Arquitectura ser de todas a área mais perene, mais visível mais indisfarçável e reveladora da evolução da sociedade e do seu cuidado com o próprio território.

Curiosa esta nossa escolha em habitar objectos aculturados – juntando função e arte. Mesmo o mais obstinado agressor da função do arquitecto cai nesta armadilha: vai usar o seu critério estético – porque não existe algo como a “linguagem neutra” –há no entanto a falta de recursos estilísticos e vocabulário limitado.
Da mesma forma não existe a “funcionalidade pura” -pode existir a pura estupidez mas nada mais.